Natal & Eu



 Há pouco tempo, comentava com uma amiga querida que vejo o Natal com olhos de criança.
Acho que não poderia definir melhor a minha relação com o Natal que é, para mim, a época mais mágica do ano, o meu bálsamo durante as tristonhas e frias estações do outono e do inverno. A primavera é doce e colorida; o verão é o tempo das férias, dos mergulhos, das roupas leves e das viagens para junto de família distante e querida.
Pegando no final do parágrafo anterior, o Natal é, por excelência, a “Festa da Família”. Logo, quem tem uma família amiga, mas espalhada pelo país, aproveita o Natal para estar com aqueles que pode (infelizmente, não posso estar com a família inteira, mas também não posso pedir tanto). Grande parte da família reúne-se igualmente na Páscoa, mas não é a mesma coisa. Falta-lhe a cor e a magia do Natal.

Pela segunda vez neste texto referi-me à magia. Sim. Magia. Como referi, vejo o Natal com olhos de criança: a família reunida, os filmes típicos da época (já decorados de tão vistos, mas jamais cansativos), as músicas, as cores, as luzes, as decorações, as árvores de Natal, os presépios... Tudo me aquele o coração e me deslumbra qual criança.
Lembro-me do meu Natal de criança, em Lisboa: via a “Música no Coração”, comia aperitivos, jantava (sempre ao som de músicas de Natal, interpretadas por Dean Martin, Bing Crosby, Judy Garland e outras estrelas da época de ouro do cinema e da música que me encanta até hoje...), brincava com todos, ia à Missa do Galo e, quando voltava, o Pai Natal tinha deixado os presentes que o Menino Jesus lhe encomendara. Dizia-se que chegava à meia-noite em ponto. Alguém tocava uns sininhos, dizendo que eram as renas que estavam a sair. Se eu fosse à janela, talvez ainda as visse. Talvez aquela estrela mais forte fosse um farol do trenó. No final da noite, cansada e feliz, ia dormir para casa dos vizinhos, que eram como família e passavam o Natal connosco.
Recordo igualmente os Natais em Castelo Branco. Neve artificial nas janelas e a eterna esperança de que aparecesse da verdadeira. Tudo o resto se repetia e era mágico para mim e para os meus primos também.
Não esqueço também os meus Natais na “minha” Ilha Terceira. Matava saudades de família querida que não via desde o verão e tudo o resto era igual, ainda que num lugar diferente. A chaminé era grande, mas, mesmo assim, eu não acreditava que o gordo Pai Natal coubesse ali. Acreditava mais que estacionasse o trenó no grande quintal que tínhamos, naquela casa que eu tanto amava. Anos mais tarde, já na adolescência, juntavam-se os primos e faziam um espetáculo de Natal, representando e cantando. Que delícia!
Muita coisa mudou de lá para cá. Como dizia o anúncio, “a tradição já não é o que era”. Atualmente, passo o Natal em Gaia e não sei até quando será possível. Continuo, todavia, a amar o Natal, a festa da família, e a deslumbrar-me com a sua magia, qual criança eterna.

Sei que um dia, por contingências incontornáveis da vida, talvez deixe de dar tanto valor ao Natal. Porém, enquanto me for possível, manterei viva esta minha criança interior... e continuarei a olhar pela janela, para ver se as estrelas são as luzinhas do trenó.

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