Tradução: nova entrevista de Debbie Reynolds


A tradução de hoje é de uma entrevista muito recente da doce diva do clássico "Singin' in The Rain" (traduzido como "Serenata à Chuva", em Portugal e como "Cantando na Chuva", no Brasil) Debbie Reynolds, entrevista essa que foi concedida a um jornal inglês no passado dia 17 de Maio.

Muito engraçado ver que a diferença da mentalidade de então - e conflito de gerações - se estende às estrelas de Hollywood - a visão sobre a sensualidade e a obsessão pela magreza, principalmente - e saber mais sobre algumas delas. Claro que a amizade com Elizabeth Taylor (que lhe roubou o marido e ela perdoou) tinha que ser abordada.

Entrevista com Debbie Reynolds: "Tínhamos que guardar os nossos maridos na garagem, se a Liz Taylor nos visitasse"
A atriz, colecionadora e perita em casamentos Debbie Reynolds ajudou a entrevistadora Celia Walden a espreitar para dentro da sua arca do tesouro de Hollywood.



"A velhice é uma fase maravilhosa da vida", diz Debbie Reynolds, sorrindo. "Pelo menos, é o que todos nos dizem. Mas deixem que eu vos diga: não é verdade. A verdade é que as nossas sncas, joelhos e tornozelos vão desistindo de nós gradualmente - na verdade, é tudo péssimo. E foi uma coisa horrível de se dizer", suspira, calmamente, "porque nós acreditámos nisso".

Com 82 anos, Reynolds não é a figura triste que parece por estas palavras. No entanto, educadamente sentada no seu camarim, usando um casaquinho de tartan cor de esmeralda e um lenço de seda colorido estilo Pucci, demonstra um pouco de humor negro.

É a  véspera do terceiro e último leilão da sua coleção de recordações de Hollywood (as duas primeiras, levadas a cabo pela casa de leilões "Profiles in History", anariou 26 milhões de dólares) e cada centímetro do chão do estúdio de dança em Los Angeles, que ela fundou há 35 anos, está coberto por caixas que contêm tesouros, como o chapéu de côco de Charlie Chaplin, a peruca de Groucho Marx, o chapéu de renda e chiffon de Scarlett O'Hara (Vivien Leigh) em "Gone With The Wind" ("E Tudo o Vento Levou", em Portugal; "O Vento Levou", no Brasil), os sapatinhos de rubi de Dorothy em "The Wizard of Oz" ("O Feiticeiro de Oz", em Portugal; "O Mago de Oz", no Brasil), o casaco de pele de Orson Welles em "Citizen Kane" ("O Mundo a Seus Pés", em Portugal; "Cidadão Kane", no Brasil) e ainda o grandioso piano e a fonte de soda de Elvis Presley.
 
A coleção original - com 3500 figurinos e 20000 fotografias originas - era para ter ficado no Hollywood Motion Picture and Television Museum (museu de cinema e televisão de Hollywood), mas desde que os diretores dos museus foram levados a entrar na bancarrota, Reynolds teve de vender todas as peças - até ficar apenas com 900. "É claro que estou triste", diz Debbie, "mas já me conformei e só tento organizar as coisas. Não quero deixar tudo para os meus filhos cuidarem. E guardei algumas coisas, como o Falcão Maltês, que está em cima da lareira, como guardião da casa. Acho que ele é tão fofo!".


Apesar de uma queda há três dias ("tive uma tontura e pimba!"), que lhe deixou um arranhão no queixo, Reynolds é vibrante e faladora - com uma pitada da ousadia de Hollywood vintage. Mais de 60 anos desde que ficou famosa com "Singin' in the Rain" e meio século depois da sua nomeação para o Oscar por "The Unsinkable Molly Brown", as memórias de Reynolds não são obscuras, mas gloriosamente em HD. "Vivi tempos maravilhosos quando tinha 16 anos", diz, "fazendo filmes e programas de televisão - aquela caixinha engraçada - antes de fazer teatro, ir para a Broadway e voltar para o cinema. Os anos 40 foram maravilhosos! Pensando bem, também os 50, 60, 70, 80, 90...", franze a testa, antes de esboçar um grande e surpreendente sorriso de menina. "Não tenho uma década favorita. Gosto de recordar toda a minha vida profissional como uma festa maravilhosa".


A sua vida pessoal foi mais tumultuosa. Tendo sobrevivido a três casamentos infelizes - primeiro, com o cantor Eddie Fisher, que a abandonou com os dois filhos, Carrie (Fisher, a eterna Princesa Leia da saga "Star Wars") e Todd, trocando-a pela sua melhor amiga, Elizabeth Taylor, depois com o empresário Harry Karl, que a levou ao desespero com o seu vício do jogo e as suas traições e, finalmente, com 52 anos, pelo imobiliário Richard Hamlett, que ela descreve como "o mal em pessoa" - a texana, filha de um trabalhador de caminhos de ferro, vive uma feliz relação platónica com um homem conhecido apenas como "Harold".

Harold - um fã de meia-idade que Debbie conheceu em 1973, quando ele acampou durante várias noites à porta do seu apartamento, em Nova Iorque - permanece quieto, a um canto do corredor, durante os primeiros minutos da entrevista. "Ele é o meu marido gay", ri Debby, antes de dizer a Harold, carinhosamente, que ele pode ir embora.

Na sua autobiografia, Reynolds afirmou que "todas os meus namorados eram gay". "Todos" - ela ri, agora, "exceto Robert Wagner". "Naquela época - e mesmo hoje em dia - os atores homossexuais tinham que fingir que eram hetero", insiste, "porque, de outra forma, não seriam contratados. As mulheres não queriam ir ver um filme novo com um homem lindíssimo que beijava homens. Rock Hudson era um grande amigo meu, que era gay, mas não se atrevia a assumir, por isso casou com a secretária do seu agente, só para encobrir a realidade. Nunca viveu com ela e ela era remunerada, É claro que essas situações ainda existem. E quem pode censurá-los?"

"De qualquer forma", sublinha,"nos velhos tempos, éramos casados com os estúdios - os estúdios eram o chefe supremo". Tendo sido recrutada num concurso de beleza, aos 16 anos, pela Warner Brothers e assinado um contrato de sete anos de 60 dólares por semana, Reynolds foi obrigada a aprender a "cantar, dançar, tratar da minha própria maquilhagem/maquiagem, cabelo e guarda-roupa" no espaço de três meses, para se preparar para o papel que a lançou em "Singin' In The Rain". "Naquela época, uma atriz não podia dizer nada. O nosso trabalho era apenas ser uma artista completa de sucesso. Então, tive que aprender a respirar corretamente, tive aulas de dicção e dançava tanto que os meus pés chegavam a sangrar. Claro que não era nada como essa coisa moderna a que chamam "hip hop", sublinha com veemência. "Não sou fã, porque acho que os jovens podem ficar com sequelas por rodarem sobre as cabeças. Não que Gene Kelly ou Fred Astaire tivessem que se preocupar com isso. Eram acrobatas."

Gene Kelly & Debbie Reynolds em "Singin in the Rain", 1952 (REX FEATURES)

Tendo contracenado com Gene Kelly - que lhe deu um inesperado beijo de língua na cena final de "Singin' in The Rain", o que a levou a ir "gargarejar com Coca Cola" -, Fred Astaire (em "Three Little Words", Bing Crosby (em "Say One for Me"), Glenn Ford (em "It Started with a Kiss"), Tony Curtis (em "The Rat Race") e Frank Sinatra, que se tornou seu grande amigo ("Ele podia ter quem ele quisesse - as pernas abriam logo -, mas não queria todas e eu nunca fui o estilo dele"), Reynolds sente que os galãs de hoje já não são o que eram.

"George Clooney é o único que parece ter ainda um pouco de glamour. Creio que Brad Pitt desistiu de tudo pela Angelina Jolie e ela ficou feliz com isso". Será Jolie a nova Taylor? "Oh, ela é muito diferente da Elizabeth", protesta Reynolds. "Elizabeth era engraçada, desbocada e nada discreta. Ela tinha que casar com quem ela quisesse. Queria que fosse uma conquista. Era totalmente determinada em nunca perder e quer saber? Nunca perdeu mesmo. Nunca conheci um único homem que fosse capaz de lhe resistir". Mesmo assim, apenas sete anos depois de Taylor ter roubado o seu marido, Reynolds perdoou. "Bom, não era fácil odiar a Elizabeth. Ela era, realmente, uma pessoa amorosa e generosa", defende, olhando-me de soslaio, por entre as suas fantásticas pestanas postiças. "Só tínhamos que esconder o marido na garagem, se ela nos visitasse".

Um dos paradoxos da mulher dos dias de hoje, aponta, é que quanto mais se esforçam, menos sedutoras são. "As mulheres eram muito mais sedutoras naquela época - e muito menos óbvias do que são hoje. uma mulher deve ser como um baú de tesouro: primeiro, é preciso encontrá-lo, depois procurar a chave ou então ter uma chave que sirva. Não era suposto ser fácil".

Andar por aí "praticamente nua" não é "sexy", por exemplo. "Mostrar um pouquinho é sexy, mas não aqueles vestidos que parecem esfarrapados e com os seios pendurados por fora. E quero dizer "pendurados" mesmo, porque nem todas têm seios redondos." Palavrões também não são bonitos. "A palavra começada por "F" é, hoje em dia, a palavra favorita de todas as pessoas", lamenta. "Façam o que a palavra diz, não a digam. Só é sexy dizer quando uma pessoa está na rua e é esse o trabalho dela".

Debbie acredita que se fala demais em tamanho, hoje em dia. "A magreza não é atraente. Eu sempre fui magrinha, mas a minha mãe não era uma senhora magra. Tinha um peito grande e uma figura voluptuosa divina. Acho que as pessoas deveriam ultrapassar a obsessão pela magreza". Exausta pelo seu sermão acerca dos padrões modernos, coloca na boca uma pastilha para a garganta. "É claro que eu não sou ninguém para decretar como as mulheres devem ser ou não", conclui. "Tive três casamentos falhados, por isso não sou a melhor pessoa para dar conselhos, mas aqui fica: meninas, menos é mais"!

Talvez o envelhecimento, sugiro quando Harold reaparece para dizer que o tempo da entrevista acabou, não seja mau, quando ficamos com a nossa sabedoria. "Oh, a parte da sabedoria é boa", concorda Debbie. "Conseguimos ver as coisas com maior facilidade. Conseguimos identificar as pessoas falsas, por isso, não nos preocupamos com muita gente. Mas também vemos a tristeza antes que ela apareça. Vemos alguém que já está destinado a seguir o caminho errado e ficamos tristes por essa pessoa. Porque os jovens de hoje não são tão cuidados como nós éramos. Os estúdios transportavam-nos em limousines e protegiam-nos dos paparazzi, por isso é que eles, hoje, são tão vulneráveis", acrescenta. "Além do mais", Reynolds sorri, tomando as minhas mãos nas delas e apertando-as docemente, "não se divertem tanto como nós".

Original: http://www.telegraph.co.uk/culture/film/10828282/Debbie-Reynolds-Interview-You-had-to-keep-your-husband-in-the-garage-if-Liz-Taylor-came-to-visit.html

Comentários

  1. Que velhinha adorável ela deve ser. Li tudo. Mal lembrava da Liz Taylor, por exemplo. Ainda não assisti Cantando na Chuva por puro esquecimento. Ah, sim, ela tem razão sobre muitas coisas (senão todas..rs). Menos é mais.

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