"Sassaricando" e "Haja Coração"... ou A minha aversão a remakes
Corria o ano de 1989 quando estreou em Portugal a novela brasileira "Sassaricando", de Sílvio de Abreu. Foi exibida, com estrondoso êxito, no horário nobre da RTP 1 (na época, havia apenas dois canais de televisão) e era uma novela que já havia terminado, no Brasil, cerca de um ano e meio antes (até aos anos 90, era sempre assim. As novelas estreavam em Portugal, em média, dois anos depois de estrearem no Brasil).
Apenas quatro telenovelas pararam Portugal. Uma delas foi a delirante comédia "Sassaricando". As outras foram "Gabriela" (a primeira a ser exibida por aqui, cerca de dois anos antes de eu nascer), "Roque Santeiro" e "Tieta" (estas duas últimas, para mim, as melhores novelas de sempre). Tirando "Gabriela" (que, como referi, ainda não tinha nascido aquando da sua exibição), todas elas marcaram profundamente o público português... e eu, criança - e adolescente - viciada em novelas brasileiras, não fui excepção. Sei, até hoje, cenas de cor!
A história de Aparício Varella, que, ao ficar viúvo, se envolvia com três amigas (Rebeca, seu amor de juventude, Penélope e Leonora) e era, depois, visitado pelo fantasma da falecida mulher, Teodora), de Tancinha, a atabalhoada vendedora de fruta, sensual e matulona, (que se apaixonava pelo baixinho Beto, filho de Penélope) da convencida Fefê (que se achava irresistível e caía nos braços do mau-caráter Leonardo Raposo), as aventuras de Camila e Guel, entre muitas outras personagens hilariantes fez as delícias do público português, que repetia frases da novela, como "não me enche os pacová", "meus deuses" ou "a cobra 'tá fumando".
O sucesso de "Sassaricando" foi de tal forma retumbante que até o grupo musical pré-adolescente Ministars (formado por membros do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras - hoje em dia, tenho a honra de fazer parte da composição adulta desse mesmo coro) cantava uma versão da música da novela:
Nas escolas (estive em duas, durante a novela, pois terminei o ensino primário e passei para o preparatório), a cada aluno de cada turma era atribuído uma personagem da novela e brincávamos, nos intervalos, interpretando as personagens. Eu, em ambas as escolas, era a Leonora Lammar (personagem magistralmente interpretada pela fabulosa atriz Irene Ravache). Na primeira escola, por opção própria, já que me apaixonei pela personagem. Na segunda escola, onde já havia uma "candidata" a Leonora, por votação, já que, além de eu adorar a personagem, sonhava ser atriz (Leonora era uma atriz fracassada) e, segundo os outros alunos, era realmente parecida fisicamente com a Irene Ravache (acho que era por causa do nariz! risos).
A paixão de todas as meninas (10, 11 anos, a época oficial das primeiras paixões platónicas) era o Guel, interpretado pelo Edson Celulari no auge da beleza e sensualidade... E não é, que, de repente, do nada, o Guel acabou por se apaixonar pela Leonora e formaram um casal engraçadíssimo? Quando se viam ou pensavam um no outro, ficavam cheios de comichões, que só passavam quando se beijavam... Beijos esses que eram sempre acompanhados por imagens de um foguetão, pois a sensação que tinham, quando se beijavam, era - segundo eles - de "um foguete chegando na lua".
É claro que eu sonhava com aquele casal. Era aquilo que, hoje em dia, se chama "shipper" de Leonora e Guel (expressão vinda do Inglês "to ship", gíria que significa "apoiar um casal fictício").
Depois de amanhã, estreará no Brasil uma espécie de remake de "Sassaricando". Por muito que o autor (Daniel Ortiz), diga que não é um remake, mas sim uma releitura (até o título é diferente: "Haja Coração"), isso não me deixa descansada.
Detesto remakes, pois as comparações são inevitáveis... Mas uma releitura é pior ainda; significa mudar tudo... Neste caso, a Tancinha não será uma matulona, mas sim a doce Mariana Ximenes, protagonista de "Chocolate Com Pimenta" (uma das poucas novelas brasileiras que conquistaram Portugal, no século XXI). Talentosíssima, mas em nada lembra a Tancinha de Claudia Raia (sem contar que se perdeu o fator engraçado da diferença de alturas entre Tancinha e Beto, que tanto chocava Penélope). A Leonora Lammar já não será uma artista fracassada na casa dos quarenta, mas sim uma ex-concorrente do "Big Brother", jovem e sensualíssima. O Guel nem se chamará Guel e sim Giovanni... Sim, porque a família não será ítalo-espanhola, como em "Sassaricando", mas sim apenas italiana e todos os nomes mudaram! Quanto à icónica Tecelagem Abdalla, de que Aparício é presidente, transformou-se no centro cultural e gastronômico Grand Bazzar. Ah, e duvido muito que haja Leonora e Guel (pobre coração de "shipper" rsrs)
Não gosto que se mexa em obras marcantes... Contudo, se consegui fechar os olhos e até gostar dos remakes de filmes clássicos portugueses, como "O Costa do Castelo" e "O Leão da Estrela" e até anseio - num misto de tristeza com curiosidade - pela estreia do remake do meu favorito, "A Canção de Lisboa", farei a mesma coisa com "Haja Coração". Abrirei a mente. A curiosidade é inevitável. Todavia, sou capaz de apostar as minhas pestanas postiças em como a minha opinião será a mesma que em relação aos referidos filmes: muito engraçado... mas apenas se esquecermos o original, a que muito fica a dever.
Para quem tiver curiosidade, aqui fica o clip de apresentação de "Haja Coração", a "releitura" de "Sassaricando": http://gshow.globo.com/tv/noticia/2016/05/haja-coracao-assista-ao-clipe-com-cenas-ineditas-da-nova-novela-das-7.html
Apenas quatro telenovelas pararam Portugal. Uma delas foi a delirante comédia "Sassaricando". As outras foram "Gabriela" (a primeira a ser exibida por aqui, cerca de dois anos antes de eu nascer), "Roque Santeiro" e "Tieta" (estas duas últimas, para mim, as melhores novelas de sempre). Tirando "Gabriela" (que, como referi, ainda não tinha nascido aquando da sua exibição), todas elas marcaram profundamente o público português... e eu, criança - e adolescente - viciada em novelas brasileiras, não fui excepção. Sei, até hoje, cenas de cor!
O sucesso de "Sassaricando" foi de tal forma retumbante que até o grupo musical pré-adolescente Ministars (formado por membros do Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras - hoje em dia, tenho a honra de fazer parte da composição adulta desse mesmo coro) cantava uma versão da música da novela:
Nas escolas (estive em duas, durante a novela, pois terminei o ensino primário e passei para o preparatório), a cada aluno de cada turma era atribuído uma personagem da novela e brincávamos, nos intervalos, interpretando as personagens. Eu, em ambas as escolas, era a Leonora Lammar (personagem magistralmente interpretada pela fabulosa atriz Irene Ravache). Na primeira escola, por opção própria, já que me apaixonei pela personagem. Na segunda escola, onde já havia uma "candidata" a Leonora, por votação, já que, além de eu adorar a personagem, sonhava ser atriz (Leonora era uma atriz fracassada) e, segundo os outros alunos, era realmente parecida fisicamente com a Irene Ravache (acho que era por causa do nariz! risos).
É claro que eu sonhava com aquele casal. Era aquilo que, hoje em dia, se chama "shipper" de Leonora e Guel (expressão vinda do Inglês "to ship", gíria que significa "apoiar um casal fictício").
Detesto remakes, pois as comparações são inevitáveis... Mas uma releitura é pior ainda; significa mudar tudo... Neste caso, a Tancinha não será uma matulona, mas sim a doce Mariana Ximenes, protagonista de "Chocolate Com Pimenta" (uma das poucas novelas brasileiras que conquistaram Portugal, no século XXI). Talentosíssima, mas em nada lembra a Tancinha de Claudia Raia (sem contar que se perdeu o fator engraçado da diferença de alturas entre Tancinha e Beto, que tanto chocava Penélope). A Leonora Lammar já não será uma artista fracassada na casa dos quarenta, mas sim uma ex-concorrente do "Big Brother", jovem e sensualíssima. O Guel nem se chamará Guel e sim Giovanni... Sim, porque a família não será ítalo-espanhola, como em "Sassaricando", mas sim apenas italiana e todos os nomes mudaram! Quanto à icónica Tecelagem Abdalla, de que Aparício é presidente, transformou-se no centro cultural e gastronômico Grand Bazzar. Ah, e duvido muito que haja Leonora e Guel (pobre coração de "shipper" rsrs)
Para quem tiver curiosidade, aqui fica o clip de apresentação de "Haja Coração", a "releitura" de "Sassaricando": http://gshow.globo.com/tv/noticia/2016/05/haja-coracao-assista-ao-clipe-com-cenas-ineditas-da-nova-novela-das-7.html
Eu não perdia um episódio de Sassaricando, adorava! :)
ResponderEliminarBem-vinda ao clube :)
EliminarAcho que Portugal inteiro via a novela :)
Beijinhos
Amei ! Até porque reavivaste-me cá umas memórias, todavia, vou confessar-te algo: Roque Santeiro foi a minha telenovela da infância (sei de cor e salteado estória & banda-sonora), a seguir " Tieta " , cuja estória e banda-sonora também sei de cor. São as minhas produções icônicas da Globo da minha infância mas AMEI o teu POST , inspiraste-me para alargar horizontes !
ResponderEliminarNão te lembras do "Sassaricando"? Bem, tinha um elenco brutal, quase só grande atores (tirando o Alexandre Frota - coitado, nunca foi grande coisa como ator e, ao que parece, nem como pessoa - e pouco mais).
EliminarA "Tieta" também sei de cor a novela e a banda sonora. Do "Roque Santeiro", sei algumas cenas... e a banda sonora também.
Grandes novelas.