A minha relação com o Vintage


Na semana passada, escrevi uma nota biográfica no meu perfil do Facebook e senti que devia postar aqui, também. Afinal de contas, além de vocês ficarem a saber um pouquinho mais sobre mim, é a explicação para a existência do blog em si, pois fala da minha relação com o tema "vintage". Assim sendo, aqui vai:

Nunca fui uma criança sociável. Frequentando um colégio de meninos ricos desde os 3 anos de idade, não podia participar nas suas brincadeiras, pois não possuía os mesmos brinquedos. Isso, aliado a já saber ler (na verdade, nunca me lembro de não saber ler, os meus pais descobriram quando eu tinha 3 anos e li numa parede: "Não à reforma agrária"!! Eheh), levou a que eu fosse vítima de bullying.
 Primeiro, era excluída das brincadeiras, depois riam de mim e, finalmente, acabaram por me "atacar" (palavras deles) todos os dias (sim, murros, pontapés e tudo o que possam imaginar. Tudo mesmo). As empregadas do colégio riam quando eu me queixava e chamavam-me "queixinhas" (o equivalente em Portugal ao "dedo duro" brasileiro) e a diretora do colégio (verdadeira vilã de novela mexicana), para se vingar da minha mãe (com quem tinha divergências) também me maltratava. De todos os lados recebia ameaças de represálias, caso abrisse a boca para contar à minha mãe o que se passava. Ela só descobriu quando eu tinha já sete anos e me ouviu aos gritos, durante um pesadelo. Ao saber de tudo, imediatamente desancou a diretora e mudou-me para o colégio rival.


Assim sendo, as minhas "competências sociais" e prazer em conviver nunca foram desenvolvidos da mesma forma que os da maioria e acabei por me tornar (até hoje!) uma pessoa atípica.

Como a vida na escola não era a mais prazerosa, era em casa e com a família que eu era eu própria. Era o meu porto seguro. Dormia no mesmo quarto que a minha avó materna e, invariavelmente, todas as noites sorvia as histórias que ela me contava... Não, não eram só contos de fadas, mas também histórias que ela própria tinha vivido ou presenciado e filmes que ela tinha visto, desde o começo do século XX até aos anos 50 (inclusive histórias pouco indicadas para uma criança pequena, como a de um naufrágio no tempo da Primeira Guerra Mundial... Que terminava sempre com a história que mais impressionara a minha avó quando ela própria era criança, apesar de não o ter presenciado: o naufrágio do Titanic).



Em paralelo, tinha pais cuja época aurea foram os anos 60 e Beatles foram a música ambiente de grande parte da minha infância em casa... Sem falar na televisão, é claro, desde desenhos animados e novelas até... Claro, musicais antigos, dos quais a minha mãe era fã. Graças a ela, tornei-me fã de artistas como Julie Andrews (até hoje, sei todas as falas de cor de "The Sound of Music" - "Música no Coração", em Portugal; "A Noviça Rebelde, no Brasil), Gene Kelly ou Doris Day... E, claro, das comédias portuguesas antigas, que via e revia vezes sem conta.

Tudo isso me fascinava além do que seria normal para uma criança pequena.
Era fã, também, de novelas brasileiras, principalmente as de Aguinaldo Silva, que eram ambientadas em cidades pequenas paradas no tempo e onde tudo podia acontecer. Acabei por associar essa magia ao detalhe das cidades estarem "paradas no tempo" e chegava a ir para a escola com roupas e penteados inspirados nas personagens de que eu mais gostava e que tinham, invariavelmente, um ar vintage, desde a Carmosina de "Tieta" (Arlete Salles) com o seu look de mulher trabalhadora estilo anos 40 até a Santinha de "A Indomada" (Eliane Giardini) toda trabalhada no estilo "femme fatal" do cinema antigo, com maquiagem carregada, colares compridos, sapatos Mary Jane, corpetes, chapéus e turbantes (de acordo com a figurinista da novela, Beth Filipecki, alguns figurinos foram mesmo inspirados em Vivien Leigh, graças aos pontos em comum com a personagem Blanche DuBois). A própria interpretação da atriz, nas cenas de comédia, lembrava bastante a interpretação de divas clássicas, principalmente Marilyn Monroe.

No entanto, e apesar de, na adolescência, ter passado uma fase meio hippy, a minha década favorita sempre foi a de 50... Acho que graças à trilogia "Back to the Future" ("Regresso ao Futuro", em Portugal; "De Volta Para o Futuro", no Brasil). Afinal de contas, os filmes contavam com uma das minhas músicas favoritas de sempre: "Johnny B. Goode". O ambiente dos "diners", as saias rodadas, os rabos-de-cavalos bem penteados, os automóveis, a ingenuidade... Tudo me encantava no primeiro filme. Tudo. Inclusive a ideia de poder visitar épocas passadas.

Sempre fui vista como estranha pelas flores no cabelo e vestidos rodados que usava de vez em quando. Sempre comprei tudo o que tinha estampas com a Marilyn Monroe ou a Audrey Hepburn. Há uns dez anos (talvez menos), quase enlouqueci ao encontrar uma espécie de túnica (horrorosa, por sinal! Rsrs), que não resisti a comprar (e usar!!) só porque tinha o rosto da Rita Hayworth estampado! Rsrs (Ah, sim, cresci com a frase "quero o cabelo da Rita Hayworth" nos lábios e até hoje tenho esse desejo). Aqui entre nós, de vez em quando, ainda uso a túnica horrorosa com a estampa da Rita Hayworth... Ninguém liga mesmo, porque, hoje em dia, as pessoas usam de tudo.

É por isso que eu fico tão feliz com a "moda" do vintage. Agora, já não sou apenas aquela pessoa estranha, fascinada pelo passado, por filmes, artistas e músicas que só as gerações mais velhas conhecem e que, de vez em quando, usa roupas e penteados fora de moda... E é maravilhoso perceber que (pelo menos, durante o tempo que a moda durar), já não estou só! :-)

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